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domingo, 28 de abril de 2013

Emigrantes Portugueses - A Correr Mundo desde 1415

Aqui há uns tempos, Pedro Passos Coelho aconselhou os portugueses a emigrar e o país inteiro riu a bandeiras despregadas. Riu da patetice do convite, porque dizer a um português para emigrar é a mesma coisa que lhe pôr uma imperial e um pires de tremoços à frente. "É que é já a seguir!".
Poucas coisas conseguirão ser mais ridículas do que dirigir um convite à emigração a um povo que, contas redondas, há 600 anos que não sabe fazer outra coisa que não seja emigrar. O português anda de trouxa às costas desde que, em 1415, D. João I teve a peregrina ideia de querer abrir um "franchise" deste burgo em Ceuta. 
E, a partir daí, é História:
Descobrimos as brasileiras e fomos de barco à Índia buscar cominhos prá feijoada; Demos a este Mundo metade do mundo de que este Mundo é feito e pusemo-lo a rezar o "Pai Nosso" na língua de Camões.
Desde que Passos Coelho incitou à emigração, já muitos partiram e outros tantos partirão. Não partem porque lhes pediram para partir. Partem porque o mundo chama por eles. Partem porque o Mundo é nosso.
Ao partir, levam consigo um pedaço do país. Seja uma bandeira, um cachecol ou uma camisola, uma imagem de N.ª Sr.ª de Fátima ou um garrafão de verde tinto, o emigrante leva na mala um pedacinho de Portugal e no coração um país inteiro.
Para o português, Portugal não se extingue nas fronteiras deste pedaço de terra entalado entre Espanha e o Atlântico. Portugal é onde houver um português! É onde se ouvir Amália, Quim Barreiros e Tony Carreira! É onde cheirar a cozido à portuguesa e a leite creme acabado de queimar! É onde houver uma bandeira pendurada numa janela ou um "terço" e um CD pendurados num retrovisor!
O Português não perde identidade. Antes, tudo faz para "colonizar" quem o acolhe. O português faz o que pode para se sentir como se estivesse em Portugal.
Mandem um português para o Tibete e passada uma semana, vão ouvir um monge na rua a assobiar qualquer coisa parecida com ponho o carro, tiro o carro, à hora que eu quiser♫; O bacalhau entra definitivamente na dieta tibetana e o Dalai Lama deixa crescer o bigode.
E se mandarem para lá outro português, os dois juntam-se, fundam uma "Comunidade Portuguesa" e ao fim de semana passa a haver churrasco, depois de uma futebolada "solteiros contra casados - muda aos 5, acaba aos 10".
Mas o português não vai embora. Não vira as costas ao país e não o abandona. O português apenas parte. Pode levar 50 anos a voltar, mas muito antes da partida, já tem o regresso no pensamento.


"Ser português é ter saudade, saudade de ser português"


Ilustração:
Jorge Brito Drawings