Segue o Zarolho no Facebook





terça-feira, 23 de julho de 2013

Bebé Real vs. Bebés da vida real

Durante todo o dia de ontem, fomos transportados para o imaginário fantasioso de príncipes e princesas e histórias de encantar, empurrados pela mediática novela que os "media" e as redes sociais teceram à volta do nascimento de uma criança como tantas outras, mas diferente por ser o filho varão de William e Kate, futuro Rei de Inglaterra e seus arrabaldes, e a quem eu carinhosamente chamei de "Symba, o Rei dos Bifes". Ora, como a Realeza até para nascer é complicada, o puto só nasceu ao fim de mais de 10 horas de trabalho de parto. Fosse a Fanny e a coisa estava despachada em menos de 5 minutos e perfeitamente a tempo de ir fazer uma presença numa discoteca. 
Este puto, que ainda agora nasceu, já tem a vida ganha e as preocupações dele não irão muito além de escolher a roupa que vai vestir e evitar meter-se em escândalos muito grandes. O recorde Real está, para já, em aparecer nu em todas as capas de tudo quanto é jornal e revista do mundo ocidental e é detido por Harry, tio do pirralho. 
Ilustração:
Jorge Brito Drawings
Vai ter um séquito de amas para lhe trocarem a Real fralda 'Armani', vai ser um puto chato, birrento e mimado e vai poder bater nos outros putos do infantário só porque é príncipe. Os pais vão poder escolher gratuitamente entre os melhores colégios privados e os reitores das melhores universidades vão fazer fila à porta do Palácio onde vai morar. Vai passar a juventude rodeado de gajas boas, vai "snifar" cocaína da melhor qualidade, apanhar borracheiras monstruosas com os melhores 'whiskys' e 'Gins' e vai fazer desintoxicações secretas nas melhores clínicas de reabilitação do mundo. E o curso superior, esse lá há-de aparecer, mais que não seja pelo método 'Relvas'. Ser Rei deve dar equivalência, no mínimo, a um doutoramento. Há-de acabar por casar com uma 'Kate' qualquer e vai ter putos iguais a ele. Finalmente vai ser Rei, ter à sua disposição um orçamento anual de milhões para gerir como lhe der na Real gana e vai poder gastar por dia aquilo maior parte dos mortais não ganha numa vida inteira de trabalho.
Os pais dele, esses, não terão de se preocupar em garantir que na próxima refeição haja comida para pôr na mesa. Não chegarão ao mês de Agosto a fazer contas àquilo que vão gastar em Setembro com livros e material escolar para mandar o pequeno príncipe para a escola, nem se no próximo mês vai haver dinheiro para pagar a propina da faculdade. Nunca ele saberá o que é ter de procurar trabalho ou estar desempregado. O trabalho dele é ter nascido e esse trabalho está feito, enquanto que para o 'plebeu' é precisamente aí que começa a trabalheira.
Mas isto assim não tem piada nenhuma. Uma vida sem conquistas, sem vitórias, uma vida em que se tem tudo como um dado adquirido e as coisas "caem do céu", não permite apreciar as pequenas coisas da vida, muito menos saber o seu valor.
Nunca ele experimentará a inigualável sensação de comprar uma carteira de cromos com o dinheiro poupado de uma parca mesada, nem nunca os pais dele conhecerão o brilho de felicidade nos olhos de um filho a quem acabaram de oferecer uma PlayStation em segunda mão, 'crackada' porque os jogos são caros, e para a qual tiveram de andar um ano inteiro a juntar dinheiro.
Estes, sim, são os pais que mereciam ser notícia de abertura dos telejornais e que mereciam ter uma coroa na cabeça. E foi nestes pais que eu pensei ao assistir a todo o circo montado à volta do nascimento do 'Royal Baby Boy': nos pais que saem de casa todos os dias para irem lutar pelo garante do sustento e educação dos filhos e não naqueles que para o garantirem basta terem um nome que não cabe no bilhete de identidade...


"O dinheiro, a fama e a fortuna podem ter o seu brilho momentâneo; Mas as coisas realmente importantes da vida, aquelas capazes de nos marcar a existência, dinheiro algum pode comprar."